“Identificar” para potenciar
Um novo
quadro legal e fiscal regulador da actividade, contribuiu para
que se verifique “um outro ambiente” em torno dos capitais de
risco em Portugal. Todavia, e segundo Francisco Manuel Banha,
director geral da Gesventure e “catalisador” de investimentos,
“Identificamos projectos de elevado potencial de valorização
para os propor a investidores”, mas “novas batalhas” há a
travar. Fala-nos de “anjos” descriminados fiscalmente, de
“sementes” por germinar, e de um “parque tecnológico” que terá,
inevitavelmente, que passar a beneficiar de uma sintonização
efectiva entre a Universidade e o Sector produtivo (público e
privado), através da negociação de parcerias apoiadas por
políticas governamentais favoráveis, Centros de C & T e
consultores profissionais, potenciando, deste modo, o acesso à
tecnologia internacional, a Know-how e ao mercado internacional.
Após o «annus horribilis» de 2001, onde a desaceleração
económica, rebentamento da bolha dot.com e “fenómenos” como o 11
de Setembro criaram um ambiente de incerteza em torno dos
capitais de risco, o sector começa a dar sinais de retoma com o
crescente interesse em operações de “fusões e aquisições” por
parte dos investidores americanos. Os fundos de Capital de Risco
começam a voltar a níveis de investimento como os verificados
anteriormente no “boom” de 2000 e 2001. “Poderemos estar a
entrar num novo ciclo de investimento”, refere Francisco
Manuel Banha. Instado a caracterizar o mercado, introduz a
distinção. A nível internacional “os tempos actuais deverão
ser encarados como uma consolidação, e não como um processo de
maturação, em que aqueles que ficaram após o crash se apresentam
com uma posição muito forte. Começam a aparecer, a nível
internacional, os grandes processos de fusão e concentração”,
e a nível nacional “haverá a necessidade de grandes
investimentos em áreas como as Tecnologias da Informação,
Comunicações e Biotecnologia. Acresce que em Portugal, as
startups não estão tão valorizadas como estariam na época das
dot.com e, como a necessidade existe, este é um mercado que
obriga a redobrada atenção sobre quem tem potencial para
apresentar novos produtos ou soluções com interesse comercial”.
A partir de 2003, o mercado do capital de risco em Portugal
passou a ter um enquadramento jurídico e fiscal favorável à
dinamização da actividade, constituindo esta uma das matérias
que, pela sua indispensabilidade, já venho defendendo
publicamente há quase uma década, sobretudo através de dois
livros publicados e dos inúmeros artigos e conferências
efectuados para o efeito.
Assim, importará realçar três aspectos essenciais
caracterizadores do referido enquadramento jurídico e fiscal
favorável: a redução do capital social mínimo para constituir
uma sociedade de capital de risco de 3 milhões de euros para 750
mil euros; a diminuição da burocracia com a transição dos
reportings do Banco de Portugal para CMVM e um enquadramento
fiscal extremamente positivo onde as SCR´s não terão que ser
tributadas pelas mais-valias obtidas se fizerem um
reinvestimento posterior.
Para além disso, a constituição de um Fundo de Sindicação de
Capital de Risco veio permitir alavancar a actividade dos
operadores de capital de risco, através de operações em forma de
“sindicato”, pelo que “se decidir investir numa empresa
startup e precisar de mais capital, as Sociedades de Capital de
Risco poderão ir buscar determinada percentagem ao fundo de
sindicação por forma a alavancar o investimento”.
Concomitantemente, a criação do Programa Nest, programa de apoio
a iniciativas de alto valor acrescentado que permite alavancar
investimentos através de empréstimos obrigacionistas, contribuiu
para criar “um outro ambiente” em torno das Sociedades de
Capital de Risco e dos potenciais empreendedores portugueses.
Todavia, subsiste a seguinte constatação: “Existe dinheiro,
enquadramento jurídico e fiscal adequado, um conjunto de
programas que permitem alavancar a actividade mas nada será
alterado se os investidores não tiverem a pró-actividade
desejável. Felizmente, a partir de 2004, as coisas mudaram um
pouco e as SCR´s internacionais começaram a ficar sensibilizadas
para a existência de um quadro regulamentar altamente favorável
à dinamização da actividade em Portugal, começando a aparecer no
mercado novos players”. Além disso, e segundo Francisco
Manuel Banha, os operadores de Capital de Risco Públicos também
começaram a adoptar uma atitude mais dinâmica, para a qual em
muito contribuiu a nomeação do novo Conselho de Administração da
PME Investimentos que, ao introduzir uma nova política de
investimento por parte de uma SCR pública, alterou o panorama
nacional. “A PME Investimentos, fruto da importante
reorientação estratégica ocorrida no seu seio, passou a
privilegiar investimentos e projectos de full risk apresentados
por jovens empreendedores. O Dr. João Vicente Ribeiro teve a
sensibilidade de introduzir um conjunto de medidas altamente
benéficas para o sector. Começa a verificar-se uma determinada
pró-actividade geradora de investimentos em negócios de base
tecnológica (refira-se, a este propósito, que ao longo do 2º
semestre de 2004 a PME Investimentos investiu aproximadamente 7
milhões de euros em 8 empresas start-ups), apresentados por
jovens empreendedores que anteriormente não tinham qualquer
hipótese de obter fundos para os seus projectos, provocando,
assim, um efeito demonstração significativo que contribuiu para
originar uma dinâmica bastante interessante.”
Por outro lado, tem vindo, igualmente, a verificar-se um
crescente reconhecimento do importante papel que as Sociedades
de Capital de Risco desempenham no âmbito dos processos de
reestruturação de empresas, suportados em operações de MBO e
MBI. Assim, ao nível das empresas que se encontram, ou estão em
vias de o fazer, em processos de Turnaround Management, temos
vindo a ser contactados por quadros directivos que pretendem
liderar esses projectos uma vez que acreditam que com uma
adequada estrutura de capitais e com o acesso a redes de
conhecimento que as SCR são possuidoras, conseguirão eliminar as
ineficiências existentes nessas organizações, construídas na
maior parte dos casos sobre estruturas instáveis que estão mal
equipadas para lidar com os requisitos do negócio, e aproveitar
a disponibilidade de adequados produtos e serviços para
satisfazer os clientes existentes em áreas de negócio mais
maduras mas com potencial de geração de “cash flow” sustentado.
Efectivamente, espero que num futuro muito próximo venham e
existir no mercado português várias operações com estas
características, pois a necessidade de renovação do tecido
empresarial português afigura-se incontornável, e nessa medida,
as empresas terão de desenvolver as suas competências tendo por
base as novas tecnologias de concepção de produtos e de
processos, de organização e gestão financeira, de controlo dos
canais de distribuição e da marca, para que consigam ter uma
capacidade competitiva nacional e internacional capaz de fazer
face à abertura dos novos mercados. Já é tempo de aparecerem
empresários que, embora sem o mediatismo e a projecção de
figuras de referência do panorama empresarial português, tais
como o Engº Jardim Gonçalves e o Dr. Artur Santos e Silva,
evidenciem, no entanto, aptidões claras para assegurar a
renovação do tecido empresarial português, através de uma
adequada transição dos seus negócios aquando o seu afastamento
da vida empresarial activa, fruto da experiência acumulada na
liderança de fortes equipas capazes efectuar um processo de
“Turnaround Management”, com todas as implicações positivas daí
decorrentes para economia portuguesa.
Todavia, a grande fatia do investimento ao nível do capital de
risco em Portugal, diz respeito a investimentos “Expansão”, pelo
que a escassez de investimento em empresas “seed” e “startups”,
continua a ser uma falha de mercado identificada desde há muito
pelas diversas entidades, públicas e privadas que operam neste
sector de actividade, o qual deverá ter como objecto o capital
de risco na sua mais pura concepção. Porventura não “tão pura”
como a verificada nos Estados Unidos, ou mesmo como a existente
nos mercados anglo-saxónicos, onde os investimentos são
realizados nas fases de capital semente e de start-up,
nomeadamente através dos investidores informais vulgarmente
designados por “Business Angels.
“Algo poderá ser feito para inverter a tendência no nosso país,
pois se reunimos as necessárias competências para continuar a
exportar, através das multinacionais instaladas no nosso país,
milhares de horas de investigação e desenvolvimento com base na
massa cinzenta dos nossos jovens à semelhança do que aconteceu
em tempos relativamente à força física utilizada na indústria
tradicional, então, esses mesmos jovens portugueses serão,
também, detentores de capacidade para desenvolver os seus
próprios negócios e para criar as suas próprias empresas, e
dessa forma desenvolverem a sua vida empresarial em todo o seu
potencial, contribuindo assim para a criação de riqueza em
Portugal, sob pena de continuarmos a ver a nossa economia obter
performances cada vez piores face às suas congéneres europeias.
Um outro problema, a ausência de um plano nacional de parques
tecnológicos e de incubadoras em que os mesmos, em parceria com
as universidades, tenham capital disponível para investigar e
inovar. A precária Inovação e Investigação de elevado potencial
de valorização continua a dificultar as ligações entre
capital-ensino e capital-inovação. “Os parques tecnológicos e
as unidades de incubação continuam a ser geridos como ilhas, e
com uma visão completamente redutora do interesse nacional.
Deveríamos ter um plano nacional que harmonizasse e potenciasse
esses mesmos parques. Os centros tecnológicos, as unidades de
incubação e as universidades deverão estar interligadas e em
relação com o tecido industrial. Daí defender a criação de um
Ministério do Empreendedorismo, em virtude de estarmos perante
uma realidade que acaba por tocar transversalmente todos os
ministérios, por forma a promover, de forma estruturante e
activa, a implementação destas e outras iniciativas igualmente
relevantes”.
A consolidação de parques tecnológicos como o Tagus Park – a
evidenciar-se como uma espécie de Silicon Valley português - e a
constituição dos primeiros Clubes de Business Angels, são, sem
dúvida, sinais positivos, mas a ausência de um verdadeiro
espírito empreendedor e a inoperância de programas de incentivo
promovidos até ao momento (note-se que o Programa Prime, desde
2000, viu demitir-se o seu terceiro gestor por falta de
projectos e deficiente execução financeira), são realidades a
acautelar num futuro próximo. Talvez o do IV Quadro Comunitário
de Apoio.
“A questão do empreendorismo e da sociedade do conhecimento,
pela inevitabilidade que comporta, jamais admitirá uma falha
como a que se verificou no âmbito da qualificação com os
programas do Fundo Social Europeu, pelo que espero muito
convictamente que o nosso país não venha a repetir na formação
de Empreendedorismo os erros que foram cometidos com a Formação
Profissional, onde nos últimos anos foram gastos 4.000 milhões
de euros provenientes de organismos governamentais Portugueses e
da União Europeia, sem que tenha sido possível a alguém
comprovar os resultados reais de tal investimento.”
“Considero que o empreendorismo será para o século XXI mais
importante que a revolução industrial o foi para o século XX”.
E porque a crítica poderia ser interpretada como sinal de
cepticismo, Francisco Manuel Banha acredita no “semear”
sectorial e deixa algumas propostas. “Deveremos privilegiar
os Business Angels, embora ainda não tenhamos um enquadramento
favorável ao aparecimento dos mesmos. Actuando localmente,
poderão assumir um papel bastante importante no apoio aos jovens
empreendedores. Conjuntamente, o mercado dos fundos de pensões
deveria investir parte da sua carteira em fundos de capitais de
risco. Além disso, à imagem do que se passa em Inglaterra,
deverão ser criados fundos de capitais de risco universitários.
Desta forma, as universidades poderão apoiar os empreendedores
em fase de investigação e protótipo. Também nas incubadoras,
deverá existir capital de risco das SCR´s institucionais. Numa
outra perspectiva, devíamos trazer para Portugal o conceito das
Corporate Ventures (dotação de verbas por parte de um grande
grupo económico com o objectivo procurar oportunidades de
negócio, que depois se possam incorporar no negócio principal).
Todas as empresas cotadas no PSI 20, já para não afirmar todas
as empresas cotadas no Euronext Lisboa, deveriam constituir
Corporate Ventures”.
Gesventure e Venture Capital IT (VCIT)
A Gesventure é uma empresa especializada com relações
privilegiadas com os investidores, quer institucionais, quer
privados, o que lhe permite assistir e apoiar os empreendedores
no financiamento das suas startups. Desde o estudo do projecto,
à conclusão dos negócios com o investidor, a Gesventure actua
como catalisador para acelerar a passagem das diferentes etapas
que o empreendedor terá de vencer até conseguir que a SCR ou um
Business Angel financie o seu projecto. A Gesventure tem como
sócio a principal angariadora de capital de risco em França, a
Chausson Finance, que nos últimos oito anos apoiou cerca de 100
empreendedores franceses, através da angariação de 300 milhões
de euros para os seus projectos.
No âmbito da actividade de dinamização do espírito empreendedor
e de evangelização do conceito de capital de risco, a Gesventure
realiza, anualmente, o Congresso Internacional de Capital de
Risco – Venture Capital IT (VCIT). No decorrer deste ano, e
dando seguimento ao passado, realizar-se-á o quinto grande
evento internacional, a realizar em Portugal entre os dias 3 e 4
de Maio, o qual se irá centrar numa Agenda que possui como temas
a debater: -O estado actual da Economia e dos Mercados; O
desenvolvimento do Empreendedorismo; As Operações de Turnaround
Management e a Evolução Prospectiva da actividade de Capital de
Risco a nível nacional e internacional,- por especialistas
de referência nestas matérias, e bem assim através da
manifestação de pontos de vista complementares de consultores,
investidores, empreendedores e industriais. Efectivamente, tendo
por base os resultados obtidos e as projecções alcançadas pelos
quatro Congressos consecutivos já realizados até ao momento, o
Congresso Internacional de Capital de Risco tem vindo a
revelar-se o Evento de referência do financiamento das empresas
que apresentam características de elevado potencial de
crescimento e de valorização, independentemente do seu estágio
de desenvolvimento ou sector de actividade. De entre as inúmeras
iniciativas promovidas neste Congresso Internacional de Capital
de Risco, destacaríamos uma em particular, o “ Elevator Pitch” -
conceito que provém originalmente dos 5 minutos que o
empreendedor tem ao encontrar um potencial investidor no
elevador, durante os quais terá que ‘vender’ a sua ideia e
despertar o interesse do investidor em querer saber mais sobre o
produto/serviço - tratando-se de uma iniciativa inovadora em
Portugal, tendo sido adoptada pela Gesventure no 4º VCIT (Maio,
2004) e no 6º Encontro Gesventure (Novembro, 2004) permitindo
que ao longo do Congresso seja dada a oportunidade a dezasseis
empreendedores de exporem, durante cinco minutos, os seus
projectos ao público em geral, ou em sessões privadas, de 30
minutos, com Sociedades de Capital de Risco presentes no Evento,
que farão a triagem para uma segunda ronda de negociações.
Efectivamente, esta iniciativa está a revelar-se um verdadeiro
sucesso em Portugal, porque para além de ter permitido a três
dos dezasseis empreendedores presentes conseguirem, no decorrer
do 4º VCIT, obter cerca de 3 milhões de euros, que lhes
possibilitou desenvolver os seus projectos empresariais,
permitiu igualmente a dois empreendedores presentes no 6º
Encontro Gesventure ficar perto de conseguirem obter cerca de 1
milhão de euros de financiamento por parte dos Investidores.
Para além deste efeito positivo à volta do VCIT, merece especial
referencia o facto de a generalidade dos Eventos que se estão a
realizar na área do Empreendedorismo, quer por parte de
entidades públicas quer privadas, terem começado a introduzir a
metodologia do “Elevator Pitch” o que diz bem da importância
desta iniciativa para os jovens empreendedores portugueses que
ano após ano têm vindo a debater-se com inúmeros problemas no
difícil processo de angariação de capital de risco, com vista à
realização dos seus sonhos.
Fonte:
O Primeiro de Janeiro
|