Há condições para afastar os investidores estrangeiros
Apesar de já ser uma forma de
investimento bastante consolidada na Europa e, sobretudo, nos
Estados Unidos, em Portugal o mercado dos capitais de risco só
agora começa a ganhar algum relevo, com a consolidação do
mercado das poucas sociedades existentes e com o aparecimento de
novas sociedades e dos primeiro fundos de investimento. O
presidente da APCRI falou a «O Primeiro de Janeiro» dos
principais desafios do negócio dos capitais de risco.
Há
quanto tempo foi criada a APCRI?
A APCRI foi constituída em 1986, na sequência da modernização do
sistema financeiro Português e da criação do quadro legal da
actividade de capital de risco.
Quantos sócios tem a associação?
No final de 2004 a APCRI contava com 19 associados.
Presentemente, este número elevou-se a 22 e há contactos em
curso para novos aderentes.
Considera que os investidores portugueses estão cada vez mais
confiantes em relação aos investimentos através de capitais de
risco?
É com grande satisfação que se verifica o aparecimento dos
primeiros fundos de capital de risco (FCR) com um quadro de
investidores que não exclusivamente o Estado e os grandes grupos
financeiros. Tal constitui o reconhecimento de algumas
variáveis. Em primeiro lugar, do potencial deste tipo de produto
enquanto instrumento de diversificação de portofolio por parte
dos investidores institucionais na sua estratégia de aplicação
de fundos, evidenciando assim a credibilidade da relação risco /
retorno desta alternativa, face às tradicionais aplicações nos
mercados financeiros tradicionais. Em segundo, representa o
reconhecimento da competência e credibilidade das equipas de
gestão e, por fim, da melhoria do quadro jurídico e fiscal que,
embora não seja o ideal, tem apresentado uma evolução favorável
nos anos mais recentes, em particular em matéria de natureza
legal e regulamentar. Deve, no entanto, salientar-se que estão
apenas a dar-se os primeiros passos e que existe um longo
percurso para percorrer antes que se possa considerar como
definitiva esta tendência recente. A este propósito cumpre
destacar que o mercado institucional é estreito, pelo que a
capacidade de captação de recursos será sempre limitada e, ao
invés do que tem acontecido na maioria dos outros países, em
Portugal têm sido criadas todas as condições para afastar os
investidores institucionais estrangeiros que tanta falta fariam
à consolidação do sector, em matéria de novos fundos para
investir. Refiro-me, por um lado, à imagem do País que, neste
momento, não é a melhor, às sistemáticas alterações (ou ameaças)
ao quadro fiscal que naturalmente criam grande desconfiança aos
investidores e, por fim, à despropositada existência de
mecanismos de retenção na fonte dos rendimentos da actividade
para não residentes que são, reconhecidamente,(inclusivamente
por tutelas políticas anteriores) um estímulo ao afastamento de
investidores estrangeiros.
Quais os desafios que se colocam às sociedades de capitais de
risco portuguesas no futuro próximo?
Julgo que os principais desafios são colocados sobretudo a dois
níveis. Um deles é a melhoria sistemática das práticas que
permitam às equipas de gestão, a médio prazo, apresentar um
“track record” seguro que as possa beneficiar no relacionamento
com o mercado, quer com os investidores quer com os empresários.
Este julgo ser mesmo o principal aspecto para quem deseja ter
uma posição segura no mercado e beneficiar do desenvolvimento
esperado da actividade - em termos de peso no PIB e de acordo
como os dados disponíveis o investimento em Private Equity em
Portugal representava 0,089 por cento do PIB versus 0,180 por
cento em Espanha ou 0,288por cento de média europeia. O outro é
uma melhoria nos sistemas de reporte, com aumento da
transparência e da qualidade de informação prestada aos
investidores, que constituirá, porventura e independentemente do
nível de performance das operações, um alicerce no
estabelecimento de relações de longo prazo com os investidores.
Que análise faz do trabalho das instituições que têm como
missão serem incubadoras do empreendedorismo em Portugal?
Para ser sincero, julgo que tem sido dada ainda pouca atenção ao
trabalho que tem sido feito por este tipo de entidades. Em minha
opinião, esta é uma área em que deve e tem que haver mais
dinamismo, não só no que respeita ao sector, mas também em
relação ao desenvolvimento do País como um todo. A percepção que
tenho é que nos últimos anos tem-se assistido a um “virar para
fora” por parte, por exemplo, das universidades que são um tipo
de entidade que, por natureza, deverá desempenhar este tipo de
papel, procurando que a investigação que se desenvolve tenha
algo a ver com a realidade económica que as rodeia. Que os
projectos que se desenvolvem sejam susceptíveis de se tornar
ideias concretizáveis quer pelo meio empresarial envolvente quer
dar origem à constituição de novas empresas de base tecnológica.
Sem me alongar muito, diria que para se poder dar seguimento ao
trabalho desenvolvido é realmente necessário identificar fontes
de financiamento específico para este tipo de projectos, o que
tem sido um problema não apenas de Portugal, mas da maioria dos
países europeus – honrosas excepções talvez para países como a
Irlanda ou a Suécia. Trata-se, aliás, de um tema extremamente
actual e que tem a ver com a revisão dos objectivos da chamada
agenda de Lisboa, a redefinição do papel do Estado neste tipo de
projectos. Por exemplo, em França, foi recentemente criado um
quadro fiscal específico para o desenvolvimento das novas
empresas de base tecnológica que beneficia não apenas este tipo
de empresas mas também os que nelas investem.
A APCRI aguarda com expectativa as ideias deste novo governo
sobre esta matéria e está naturalmente interessada em participar
na definição deste novo quadro.
Quais são as metas da APCRI para este ano?
Os objectivos da Associação para o corrente ano são, sobretudo,
o de procurar participar na discussão das ideias e na definição
do quadro de incentivo que o novo Governo certamente terá para o
sector, uma vez que a actividade de capital de risco é hoje
reconhecida ao nível da Europa como um veículo de excelência
para o desenvolvimento do tecido empresarial. Aqui reside, em
nosso entender, uma oportunidade para que os nossos dirigentes
possam tirar partido do desenvolvimento que o sector tem tido
recentemente, expresso no aparecimento de um número
significativo de novos operadores, e que, ouvindo os parceiros,
possa, dentro das limitações compreensíveis em matéria de
natureza orçamental, à semelhança do que está a acontecer em
França e em Espanha (países que nos estão próximos), criar as
melhores condições para que a actividade se desenvolva.
Fonte:
O Primeiro de Janeiro
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