Avaliar o risco
Uma das fases fundamentais de
qualquer investimento na indústria dos capitais de risco é a da
avaliação das empresas ou dos projectos que serão alvo de
investimentos no seu capital. Esse é o trabalho da Ernst &
Young, através da assessoria financeira e fiscal, que traça uma
radiografia que permite aos investidores avaliar a viabilidade e
a rentabilidade dos projectos a financiar.
Avaliar
com precisão e isenção a realidade de uma empresa é uma tarefa
nem sempre fácil e que exige rigor, mas que assume um papel
fundamental quando falamos de investimentos em private equity. A
Ernst & Young presta serviços de assessoria financeira e fiscal,
e/(ou) auditoria, a cerca de 65 por cento dos fundos de capitais
de risco (private equity) em todo o mundo. José Gonzaga Rosa é
partner da Ernst & Young em Portugal e considera que “mesmo em
termo mundiais, os investimentos em venture capital (seed
capital, start-up e development) representam uma fatia inferior
ao investimento em buyouts no conjunto do investimento total em
private equity, mas quando falamos do caso português essa
dimensão é quase insignificante, quando comparada com o bolo
global. Comparando com Espanha, e recorrendo a números de 2003,
os investimentos em private equity ascenderam a 767 milhões de
euros no país vizinho, enquanto que em Portugal se ficou pelos
143 milhões, o que diz bem da representatividade do nosso
mercado. A existência de um número reduzido de transacções de
private equity em Portugal, dificulta a especialização das
sociedades de capitais de risco, quer em termos sectoriais, quer
em termos de modalidades de investimento. O deal flow deste
negócio acaba por ser insuficiente para essa especialização, mas
a experiência e conhecimentos do mercado internacional da Ernst
& Young, são uma mais-valia na segmentação dos investimentos”.
No entanto, o mercado de private equity em geral e de venture
capital em particular está numa fase de expansão e os
resultados, em termos de rentabilidade, são bastante animadores.
O responsável pelos Transaction Advisory Services da Ernst &
Young em Portugal assegura que “apesar de não existirem dados
sobre a rentabilidade do investimento em seed capital, quando
falamos globalmente em private equity (incluindo todas as fases
de venture capital, e buyouts) a média da Taxa Interna de
Rentabilidade dos investimentos, segundo a European Private
Equity and Venture Capital Association (EVCA) é de 9.9 por
cento, enquanto que o JP Morgan Eurobound, que é a segunda forma
de investimento mais rentável, segundo o mesmo estudo, se fica
pelos 9.7 por cento de rentabilidade. Se formos dividir esses
9.9 por cento de rentabilidade, em quartis, verificamos que no
primeiro quartil a média de rentabilidade é de 23.1 por cento
para a private equity”, o que vem reforçar a ideia de que
adquirir uma parte do capital social de uma empresa por um
período de tempo e intervir na sua administração, poderá ser um
investimento com uma taxa de rentabilidade considerável, que é,
no fundo, o objectivo de qualquer negócio, e o private equity
não é excepção.
A importância do networking
Num tipo de negócio que está numa fase inicial em Portugal, há
ainda alguns mitos e preconceitos associados ao negócio dos
capitais de risco que começam a ser clarificados. Para José
Gonzaga Rosa “havia a ideia de que os venture capitalists só
adquiriam posições minoritárias nas empresas participadas, mas
essa concepção tende a desaparecer e os negócios que se vão
concretizando provam isso mesmo. Para um empreendedor a rede de
conhecimentos que o seu parceiro de negócios lhe proporciona é
de uma importância vital e essa é uma das mais-valias das
parcerias que estabelecemos, como a que temos com a Associação
Portuguesa de Capitais de Risco e Desenvolvimento (APCRI). Para
além disso, por haver, durante o processo de análise de uma
empresa por parte dos potenciais investidores, uma auditoria
rigorosa, isso vem traduzir-se numa maior transparência no
processo de gestão das empresas e, consequentemente, uma mais
valia para as mesmas. A existência de mecanismos de controlo,
por parte das organizações perante as suas participadas, acaba
por ter uma forte componente pedagógica, sobretudo nas PME’s”,
uma vez que mais de 75 por cento do investimento feito em
private equity recai sobre empresas com menos de cem
trabalhadores.
No processo de investigação (due diligence) às empresas, uma das
modalidades mais frequentes é a due diligence financeira que
“engloba toda a componente contabilística e financeira, baseada
em critérios de análise objectivos das contas da empresa”, como
explica José Gonzaga Rosa. No entanto, num cenário em que a
competitividade dos mercados se intensifica, o sucesso de uma
transacção, pode depender da realização da “ due diligence
comercial, que presta atenção à concorrência do segmento de
mercado que poderá ser objecto de investimento, bem como às
quotas de mercado da empresa em questão. Nesta fase de análise a
experiência internacional da Ernst & Young é uma mais valia
importante para as sociedades de capital de risco, uma vez que a
nossa experiência e percepção, sobretudo em termos
internacionais, nos permite fazer o benchmark sem nos cingirmos
apenas aos números, mas utilizando o nosso know-how para lermos
para além das contas”.
Numa altura em que a situação económica internacional ainda está
a sofrer os efeitos de uma longa recessão, José Gonzaga Rosa
admite que “apesar de já termos uma posição importante no
universo da indústria de private equity em todo o mundo queremos
expandi-la. No ano de 2004 já houve sinais de recuperação da
economia global e tudo aponta para que essa recuperação se
solidifique em 2005, criando assim condições estruturais para o
desenvolvimento da indústria de private equity. O facto de haver
taxas de juro reduzidas facilita as operações de fusão e de
aquisição, uma vez que o preço relativo do capital alheio está
mais acessível, facilitando assim a montagem de operações, e
tornando mais atractivas as yields dos fornecedores de fundos de
capitais de risco no mercado. A solidificação financeira das
empresas é um factor decisivo, onde o private equity poderá ter
um papel fundamental. Em termos de capitais de risco, a aposta
do novo governo na investigação e desenvolvimento e nas novas
tecnologias poderá ser uma alavanca para o desenvolvimento deste
negócio em Portugal”. Aliar o conhecimento científico dos
investigadores ao capital dos investidores poderá ser uma aposta
de futuro. Foi isso que se fez em Silicon Valley e, mesmo depois
do «annus horribilis» de 2001 e do rebentamento da bolha das
dot.com o exemplo continua a ser de sucesso.
Fonte:
O Primeiro de Janeiro
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