A fuga para as galinhas
A Rússia e os Emirados Árabes Unidos poderão vir a consumir
frango produzido por uma empresa portuguesa... no Brasil! A
unidade de produção que servirá de base ao negócio já foi
identificada, mas ainda não foi adquirida. Para avançarem com o
negócio, os três empresários portugueses que estão por detrás do
projecto precisam de 5,6 milhões de euros, uma verba que estão a
tentar angariar através de capital de risco
POR LUIS BATISTA GONÇALVES
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É mais um fenómeno da globalização. A Rússia e os Emirados
Árabes Unidos poderão vir a importar frango produzido por uma
empresa portuguesa no Brasil. Neste momento, o projecto ainda está
a ser apresentado a várias sociedades de capital de risco mas,
assim que houver dinheiro, pode imediatamente arrancar. “Está tudo
preparado para avançarmos com o negócio”, confirmou já ao
PortalExecutivo António Pedro Santos, um dos três empresários
portugueses por trás do Chicken P-Plant. O conceito foi explicado
aos potenciais investidores durante o VCIT – 5º Congresso
Internacional de Capital de Risco, que recentemente teve lugar em
Lisboa. Mas para adquirir a fábrica que têm em vista no Brasil,
recuperar os edifícios que lá existem, comprarem máquinas e
arrancarem com a produção, os mentores do negócio precisam de
cerca de nove milhões de euros. Desses, 5,6 milhões de euros
deverão ser financiados através de capital de risco.
A maior fatia dessa verba irá para a aquisição de novos
equipamentos – 1,48 milhões de euros – e para a compra da fábrica.
O pilar central da futura cadeia de produção, que está localizado
num terreno com 11 500 metros quadrados e terá 3500 metros
quadrados de novos edifícios, custará 0,8 milhões de euros e terá
capacidade para produzir 1,5 milhões de toneladas de frango. De
acordo com o plano de negócios da empresa, por dia, poderão ser
produzidos 100 mil aves, o que equivale a cerca de 144 toneladas
de carne. Por mês, poderão sair de lá mais de 1000 toneladas,
podendo o negócio gerar vendas na ordem dos 2,8 milhões de dólares
e lucros líquidos superiores a 104 500 euros logo no primeiro ano.
“Temos procura garantida em mercados como a Rússia e o Médio
Oriente”, assegura o empresário que, depois da consultoria e de
experiências profissionais no sector financeiro e no imobiliário,
aposta numa fuga para a frente ao empreender um projecto
assumidamente ambicioso.
Segundo os dados que sustentam a viabilidade do negócio, só este
ano o governo russo deverá importar do Brasil 1,09 milhões de
toneladas de frango. No próximo ano, este número poderá
ultrapassar os dois milhões e, em 2009, segundo várias previsões
internacionais, não deverá andar muito longe dos 2,8 milhões. Até
há pouco tempo, grande parte da carne desta ave que era consumida
no país era importada de vários países asiáticos. O surto de gripe
que por lá proliferou obrigou ao abate de 140 milhões de galinhas,
cerca de 70 por cento da sua produção. Na sequência disso, países
como a Rússia, que no início deste ano cancelou o embargo à
importação de carne brasileira, viram-se confrontados com a
necessidade de recorrer a outros mercados. À frente, surge o
Brasil, que só no primeiro trimestre deste ano exportou para a
região 635 433 toneladas desta carne, mais 18,26 por cento do que
em relação ao mesmo período de 2004. Actualmente, este negócio
rende ao país de Lula da Silva cerca de 685,7 milhões dos 2,6 mil
milhões de dólares que os frangos brasileiros geraram em todo o
mundo durante o ano que passou.
Listas de encomendas preenchidas até 2006
A procura de frango brasileiro aumentou de tal maneira nos últimos
meses, que as poucas fábricas que têm licença para produzir e
exportar esta carne já têm as carteiras de encomendas preenchidas
até 2006. Muitas, sem capacidade para dar resposta a todos os
pedidos, estão mesmo a comprar frangos a explorações mais
pequenas, que não têm o certificado sanitário de exploração que
lhe permitiria vender directamente a sua produção para outros
mercados. “Nós temos essa licença para vários países. Foi
concedida a uma empresa do nosso grupo. Não abrange a Europa, mas
essa também não nos interessa, porque no continente europeu a
carne mais importada continua a ser a de vaca e as elevadas taxas
que são cobradas inviabilizam essa exportação. Mas temos a máquina
montada e estruturada a todos os níveis para avançar para os
outros mercados. Só falta mesmo a unidade produtiva”, assegura
António Pedro Santos.
Nas últimas semanas, o empresário português tem sido pressionado
pelos proprietários da fábrica que identificou no Brasil, para
avançar rapidamente com o negócio. “A procura deste tipo de
unidades é muito grande mas, para já, tenho a garantia de que os
seus proprietários ainda podem esperar mais um pouco”, refere.
Se o negócio se concretizar, António Pedro Santos espera tirar
partido das últimas inovações tecnológicas que surgiram no sector,
porque para criar frangos já não basta construir uma capoeira e um
armazém para guardar as sacas de milho. Sobretudo quando a ideia é
certificar a carne que se produz. “Sem alta tecnologia, não há
rentabilidade no processamento e não há lucros”, afirmou à plateia
que assistiu ao segundo dia do VCIT – 5º Congresso Internacional
de Capital de Risco. “A criação de frango é apenas uma das fases
do negócio. Futuramente, queremos lançar-nos na produção e na
compostagem de rações e não ficar só pela alimentação e abate de
aves. Isso permitir-nos-á controlar a qualidade da alimentação dos
nossos frangos e assegurar uma produção com qualidade, acima de
tudo”, afiança. pe
Exportações de frango brasileiro cresceram 44 por cento em 2004
Metade do mundo come frango criado no Brasil. Segundo a Associação
Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF), 43 por
cento das importações mundiais de carne desta ave têm como ponto
de expedição o país do samba e do futebol. “O Brasil ocupa o
primeiro lugar absoluto tanto em volume como em receita cambial”,
assegura a ABEF.
Durante o ano que passou, as exportações brasileiras de frango
cresceram 44 por cento, em relação com 2003. Só este mercado foi
responsável por 2,6 mil milhões de dólares. Em volume, as vendas
atingiram 2,6 milhões de toneladas, um número 26 por cento
superior ao registado o ano anterior.
De acordo com os números oficiais do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o seu desempenho
nos mercados mundiais catapultou esta carne para o segundo lugar
das exportações agro-pecuárias brasileiras e para o sexto lugar
das exportações gerais.pe
Fonte:
Portal Executivo
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