China monopoliza debate no 5º VCIT
China , China, China. Não há praticamente um dia em que não se
oiça falar desta economia emergente, seja pelos receios dos
europeus face ao aumento das importações de têxteis, seja pelo
anúncio de que vai começar a exportar automóveis mais baratos,
seja porque dentro de alguns anos, prevê-se, será a maior
economia mundial. E o VCIT – 5º Congresso Internacional de
Capital de Risco não foi excepção. Todos os oradores foram
consensuais: a China converter-se-á a prazo na maior economia do
mundo
POR CRISTINA PEREIRA
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A China dominou as
discussões na manhã do primeiro dia do VCIT – 5º Congresso
Internacional de Capital de Risco. Esta iniciativa anual da
Gesventure decorreu desta vez nos dias 3 e 4 de Maio, no
Lispolis, em Lisboa
E numa primeira sessão subordinada ao tema "Economia e
Mercados", a emergência da China como grande potência económica
revelou-se uma questão incontornável. Em face do que vem por aí,
as preocupações dos últimos dias relativamente ao
espectacular aumento das importações de têxteis chineses pela
Europa diminuem francamente de importância. É que os chineses
não vão seguramente ficar-se pelos têxteis. Na opinião do
ex-ministro Mira Amaral, "a China é a grande potência económica
emergente do século XXI". Mais ainda, é de prever que o actual
G6 – o grupo dos seis países mais ricos do mundo – se mostre
completamente descaracterizado daqui por 20 ou 30 anos. Dos
actuais membros, "só dois manterão o seu lugar: os Estados
Unidos e o Japão", sublinhou o engenheiro. A China, que se prevê
venha a ser a segunda economia mundial atrás dos EUA em 2020 e a
primeira em 2050, fará certamente parte daquela elite.
E se a Ásia emerge e os EUA se adaptam, já a
situação da Europa é "altamente preocupante", alertou Mira
Amaral, sublinhando que o Velho Continente "continua preso nos
seus esquemas proteccionistas e no seu estatismo". Como
comprovou num evento internacional de que participou
recentemente, "os chineses, os indianos e os americanos riem-se
à menção da Agenda de Lisboa". Resumindo, "nós não somos
credíveis". E obviamente que Portugal "sofre também desta doença
europeia", agravada pelos problemas específicos que debilitam o
País.
A invasão chinesa não vai resumir-se às indústrias mais
tradicionais, como a dos têxteis: "As empresas chinesas de
telecomunicações começam a crescer nos EUA e na Europa, com
tecnologias competitivas", afirmou Mira Amaral.
E com uma população de 1.300 milhões de pessoas (520 milhões das
quais já a viver nas cidades), "o governo chinês pode ir
injectando mão-de-obra barata [recrutada entre os actuais 780
milhões que vivem no campo] de acordo com as necessidades",
sublinhou. Daí que o país possa ainda manter-se durante muito
tempo como uma economia de baixo custo e baixos salários.
Mas a China, além de uma ameaça, é também uma oportunidade. "É
um mercado ávido de consumir produtos ocidentais", salientou
Mira Amaral. Apesar de ser dos países "que mais copiam, há já lá
muita gente que quer a marca verdadeira", sublinhou.
Há que ter em conta que 50 por cento das exportações chinesas
são feitas para empresas ocidentais que aproveitam a China para
lá produzir os seus produtos. De qualquer das formas, "não
podemos ignorar um país com 1.300 milhões de habitantes",
observou. "Se faz parte da economia global, é bom que faça parte
da Organização Mundial do Comércio".
Segundo Mira Amaral, administrador de uma empresa que já tem um
escritório na China, vinhos e bebidas, calçado, cerâmica e
material sanitário, entre outros, são alguns sectores que
Portugal pode exportar para aquela nação asiática. Mas, alertou,
quem for para a China tem de estar preparado para situações
como, por exemplo, o mau funcionamento do correio electrónico e
do fax. "Para eles, a presença física é muito importante",
frisou. Factores como a disposição para fazer uma aposta a longo
prazo, uma boa relação qualidade-preço e um bom parceiro local
foram também destacados por Mira Amaral como aspectos a
considerar para quem desejar tentar a sua sorte na China.
Tem de haver uma cooperação entre os EUA, a Europa e a China
Também Paulo Pinto, da DIF Broker, concorda que "estamos no fim
de um ciclo, representado pela dominância do dólar como padrão
global e o emergir da China como super-potência". A China
prepara-se, alertou, "para ser a maior potência nos próximos 30
anos".
Segundo Paulo Pinto, "os chineses não estão a fazer nada de
particular, estão a aproveitar a dimensão e a fazer o que os EUA
fizeram no século XX". Entre os vectores desta "estratégia
simples", contam-se os seguintes: esmagar a concorrência com
custos de trabalho únicos e tornar-se no principal país credor
dos EUA. "A dívida pública americana é detida em 50 por cento
por estrangeiros. E só a China detém um sexto desta dívida",
constatou. E se Roosevelt usou a sua posição como credor do
Reino Unido para obrigar os britânicos a alienarem algumas das
colónias, "qual será a estratégia da China como credora dos
EUA"?
Enquanto o dólar e o euro lutam pelo domínio internacional – uma
"luta oficiosa", como classificou Paulo Pinto –, "os EUA podem
gastar mais do que ganham, mas não os outros países. Importam
mais 50 por cento do que aquilo que exportam e só podem
continuar a fazê-lo por causa do dólar", dado que é esta a moeda
de denominação da dívida.
Para evitar uma depressão mundial, aconselhou ainda Paulo Pinto,
"tem de haver uma coordenação muito leal e estreita entre os
Estados Unidos, a Europa e a China".
Os comentários sobre a China foram bastante consensuais ao longo
do Congresso. António Neto da Silva, presidente da Proespaço –
Associação Portuguesa das Indústrias do Espaço e da Deimos
Engenharia, sublinhou que "a Europa teve um papel estratégico
fundamental como teatro das operações. Afinal, as duas grandes
guerras mundiais foram travadas na Europa". Mas a crise de hoje,
referiu, é efectivamente uma crise mundial. "A perda de ocupação
dos países islâmicos pela Europa é uma mudança que reforça uma
atitude de cooperação inevitável entre a China e os EUA e a
Europa tem de ter cuidado para não ser relegada para um papel
marginal", alertou. Se a Europa não mudar, referiu António Neto
da Silva, "o declínio é praticamente inevitável".
China pode ser já hoje a segunda maior economia do mundo
Mas ninguém melhor que um chinês – neste caso uma chinesa – para
falar da China. Mannie Manhong Liu, professora de Finanças e
directora do Instituto de Investigação em Capital de Risco e
Private Equity da Universidade de Renmin (China), apoiou com
factos e números os sinais do notável crescimento da China nos
últimos anos.
Afinal, um crescimento médio do PIB de 9,5 por cento entre 1979
e 2004 não é para todos. Uma robustez que nem a epidemia de SRA,
em 2003, abalou. "Nada pode parar este crescimento", afirmou
Mannie Liu. E se há previsões que apontam para que a China seja
a segunda maior economia mundial em 2020, "há especialistas em
Wall Street que dizem que já hoje o é", sublinhou.
De facto, hoje, nalgumas áreas, a China vive já de acordo com os
padrões ocidentais. Há telefones fixos e telemóveis com fartura,
acesso à Internet e as tradicionais bicicletas foram
substituídas por automóveis. "Foi um desenvolvimento notável,
mas também tivemos os nossos problemas", afirmou. Há ainda muita
gente que vive abaixo do limiar de pobreza. Há dois anos, era de
20 milhões o número de chineses que se encontravam naquela
situação, o que, ainda assim, representa uma notável diminuição
face ao cenário de alguns anos atrás. Citando a sua experiência
pessoal, Mannie Liu declarou: "A minha filha hoje não tem noção
de como eram as coisas antigamente. Eu, pessoalmente, passei
fome". Aliás, acrescentou, era habitual as pessoas
cumprimentarem-se naquele tempo com um "Olá, já comeste"?
Mannie Liu também acredita que os custos laborais vão manter-se
relativamente baixos. Entre 2010 e 2015 a economia vai continuar
a crescer muito fortemente. A China irá melhorar a sua protecção
à Propriedade Intelectual "porque tem mesmo de o fazer", referiu
Mannie Liu, e irá concentrar-se nas suas tecnologias de
aplicação. O espírito empreendedor manter-se-á forte.
No que respeita ao capital de
risco na China, Mannie Liu descreveu a evolução do cenário
desde 1986, quando o governo criou a primeira empresa de
capital de risco, até aos nossos dias. Um dos principais
marcos nesta evolução foi a excursão de Deng Xiao Ping ao
sul da China, em 1992, que viria a tornar evidente a
necessidade de reformas em várias áreas vitais, como os
bancos públicos, as empresas públicas e o orçamento de
Estado. Foi então lançada uma nova estratégia pelo governo
em direcção a uma "Economia de Mercado Socialista", em 1994,
que levou à adopção de uma série de medidas de reforma nos
sistemas fiscal, financeiro, cambial e das empresas
estatais. O governo começou a encorajar o desenvolvimento de
capital de risco em parques nacionais de alta tecnologia e,
em 1998, endossou um documento para fomentar o capital de
risco no país. Entre 2001 e o final de 2002 foram criadas
muitas empresas de capital de risco, um desenvolvimento
desacelerado pela subsequente recessão. Mas, a partir de
2003, foi visível uma recuperação no investimento. |
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Mannie Liu: "se a recessão de 2002 afectou
tanto a China como os EUA, em 2003 os EUA mantinham a
desaceleração mas a China encontrava-se já em grande
crescimento"
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Em 2004, a China protagonizou 24
IPOs fora do país, num investimento total de 1,2 mil milhões de
dólares. Também no ano passado foram registados 253 projectos
financiados por capital de risco, o que representa um
crescimento de 28 por cento face a 2003. Ainda assim, o capital
de risco estrangeiro continua a dominar o mercado chinês, com
cerca de 70 por cento do financiamento. E se compararmos com a
tendência americana, verificamos que, "se a recessão de 2002
afectou tanto a China como os EUA, em 2003 os EUA mantinham a
desaceleração mas a China encontrava-se já em grande
crescimento", salientou Mannie Liu. Persistem, no entanto,
algumas barreiras ao capital de risco nacional. É um sistema
"difícil de entrar, difícil de sair e difícil enquanto lá se
está", afirmou. Problemas que o governo se mostra empenhado em
resolver.
China – factos & números
-
O primeiro país do mundo em IDE
(2002)
-
Consome metade do cimento mundial e
30 por cento do petróleo mundial
-
A indústria representa já 52 por
cento do PIB
-
O primeiro produtor mundial de
têxtil e televisores
-
Dentro de 10 anos, ultrapassará o
Japão
-
Dois milhões de chineses formados em
Tecnologia e Ciências em 2004
-
Uma classe média de 300 milhões de
pessoas (com mais mil milhões que aspiram a tal)
-
Há 450 empresas americanas na China
Capital de risco ou empréstimos bancários?
A evolução do capital de risco na Europa foi o tema da
intervenção de Georges Noël, da Associação Europeia de Private
Equity e Capital de Risco (EVCA), que defendeu que a região se
debate fundamentalmente com um problema de desempenho: "Temos
pequenos investimentos em comparação com os Estados Unidos",
afirmou. Prevê-se que 2005 seja um ano recorde em termos de
angariação de fundos por parte dos cinco principais operadores
europeus (em 2004, este valor ascendeu aos 24.689 milhões de
euros, de acordo com estatísticas preliminares).
Relativamente a Portugal, Georges Noël declarou que "começa a
ter um sistema eficiente, mas precisa de um ecossistema para a
evolução do mercado de capital de risco". Salientou posições
acima da média europeia do nosso país em parâmetros como o
ambiente fiscal e legal e o investimento de capital de risco em
percentagem do PIB, constatando que "Portugal tem uma situação
bastante respeitável na Europa". No scorecard da
"auto-sustentabilidade", Portugal é o 11º de 15 países,
anunciou. O País encontra-se na segunda fase do ecossistema de
capital de risco (composto por quatro), que se intitula
"Borderline situation". Georges Noël notou ainda que nenhum país
europeu se encontra na fase mais avançada, a da
auto-sustentabilidade.
Já António Neto da Silva é da opinião que "n ormalmente o
capital de risco em Portugal praticamente não existe. O que
existe são empréstimos bancários disfarçados. E isto não é
capital de risco". Relativamente ao sector do espaço, o
presidente da Proespaço considera que este tipo de empresas "tem
grande hipótese de precisar de capital de risco". Afirmou ainda
que o que a indústria do espaço precisa é de lobby junto das
instâncias europeias, precisamente para conseguir captar os
melhores projectos. "Não precisamos de incentivos, nem de
subsídios, precisamos é de lobby e de estruturação", rematou.
Outsystems prepara-se para segundo round de angariação
Paulo Rosado, CEO da Outsystems, fez uma intervenção centrada
nas tendências e novas oportunidades em tecnologias de
informação. A Outsystems está neste momento a expandir-se para
os Estados Unidos. Paulo Rosado anunciou que acabou de fazer o
primeiro round de angariação de capitais e que está a
preparar-se para o segundo.
Para o engenheiro, a Internet situa-se agora numa fase de
"maturação brutal", dada a rapidez e robustez que a caracteriza.
Existe agora tecnologia barata com poder suficiente para criar
data centers globais. Temos assistido, assim, a um aumento
brutal do storage: os discos diminuem de tamanho e aumentam de
capacidade.
E se antes as empresas eram valorizadas pelo número de pessoas
que visitavam os seus sites, agora é pelas suas capacidades de
"efeito em rede". Este modelo está a surgir numa série de áreas,
como reflexo do desvio do software para o infoware, tal como se
deu no passado do hardware para o software. E Paulo Rosado deu
os exemplos da Google – "aproveita-se do trabalho que todos nós
fazemos na rede", compilando os sites mais relevantes através
das recomendações feitas pelas várias pessoas –, da eBay – que
resolveu o problema da confiança em quem vende através de um
mecanismo de feedback dos compradores – e da Amazon – cujo
grande valor advém do facto de capturar análises elaboradas
pelos clientes. "Portanto, qualquer modelo de rede é passível de
criar grande valor", avançou.
Um exemplo paradigmático é o da Apple, que criou o iTunes e, a
partir dele, o iPod. Com a ideia subsequente de vender música
pela Internet, "fez o 'lock' completo da cadeia", declarou Paulo
Rosado. O suficiente para "arrumar" com a Sony nos walkmans e
gravadores e com a Virgin na distribuição retalhista de música.
A Apple é uma empresa de hardware que, à custa de software, fez
o 'lock' total de uma cadeia de abastecimento. E deixou o
alerta: a próxima disrupção da Apple pode surgir no mercado do
download de filmes pela Internet…
Como fomentar o empreendedorismo?
A tarde do primeiro dia do Congresso foi subordinada ao tema do
empreendedorismo e deu aos assistentes a oportunidade de
apreciarem experiências decorridas em Portugal, no Canadá e no
Reino Unido. Chris Curtis, da canadiana CG International,
empresa fundada há 15 anos e representada em 16 países, trabalha
com instituições financeiras e governos para ajudar a
desenvolver o empreendedorismo. Salientou, no processo de
constituição do empreendedor, a importância do apoio de um
mentor, a ajuda dos pares, a aprendizagem prática, a aquisição
de conhecimento e o planeamento. Chris Curtis comparou ainda o
investimento feito em Portugal no futebol com a atitude que
deveríamos ter face ao empreendedorismo. "Impressiona-me a
paixão que as pessoas têm pelos seus clubes" afirmou. E anunciou
ainda a recente constituição da CG Portugal, uma parceria entre
a CG International e Francisco Banha, que tem por objectivo
desenvolver projectos de empreendedorismo no sistema educativo e
em organizações empresariais, através do fomento de uma cultura
mais empreendedora.
Já a britânica Julie Logan, directora da Simfonec, uma
iniciativa lançada em Março de 2003 que pretende desenvolver o
potencial das universidades britânicas, falou sobre a resposta
do governo inglês com vista a construir a base de conhecimento
do Reino Unido. A iniciativa aumentou brutalmente o número de
'spin-outs' geradas pelas universidades, de cerca de 70 em 1996
para 200 em 2000 e 250 em 2001. As receitas até ao momento
cifram-se em 3,5 milhões de libras, principalmente através de
vendas para os EUA.
João Pessoa e Costa, da Ambelis – Agência para a Modernização
Económica de Lisboa, referiu que "Lisboa é a capital de uma
pequena economia aberta com um potencial enorme para crescer".
Mas tem também problemas, como o elevado preço das compras,
muita burocracia e uma população que decresceu e envelheceu. À
falta de "uma estratégia clara e de elementos para a executar",
a Ambelis pretende relançar uma estratégia apoiada em quatro
eixos principais: Lisboa cidade activa e com bom ambiente para
os negócios; Lisboa cidade inovadora e virada para o futuro;
Lisboa cidade criativa (cultura, arte, design de moda); e Lisboa
cidade viva (bairros e vida nocturna). Foi assim criado o site
www.lisboactiva.pt, que presta serviços como on-line business,
on-site business, organização de agendas de negócios e de
contratos à medida, serviços imobiliários, apoio à
internacionalização, conferências e seminários, informação
académica sobre a cidade, estudos e relatórios e apresentações
de Lisboa.
Angariar demasiado capital pode ser tão mau como angariar muito
pouco
Ian Page, que começou por ser um engenheiro, depois académico,
depois empreendedor e finalmente investidor, deu conta da sua
rica experiência ao longo de um quarto de século. Foi graças à
sua ideia, o sistema "Handel", que foi criada a Celoxica, em
meados dos anos 90, graças a um investimento "angel". A Celoxica
transforma software em hardware (um chip) e actua comercialmente
desde 2000, altura em que foi inundada por capital de risco. A
grande lição que Ian Page obteve foi que "ter muito dinheiro
parecia bom, mas revelou-se a pior coisa que podia acontecer".
Ian Page acabou por ser "corrido" da Celoxica e tornou-se
investidor em empresas de tecnologia. Como, basicamente, não
ganhou nem perdeu nada, decidiu "usar melhor os seus
investimentos em tecnologia em early-stage". O que culminou,
depois de várias peripécias, na rede de investidores ONION. Mas
como ser investidor "angel" individualmente é muito difícil,
co-fundou a Oxford Informal Investor Syndicate (OIIS), com
outros membros da ONION, reunindo cerca de 20 investidores
"angel". Agora, gere o fundo de investimento Seven Spires
Investments, criado no início de 2003 e que procura investir em
empresas de alta tecnologia na fase de early-stage. Algumas das
lições deixadas por Ian Page: angariar demasiado capital pode
ser tão mau como angariar muito pouco; passar demasiado tempo a
angariar financiamento pode ser ineficaz; concentrar-se em
objectivos atingíveis; a execução é tudo (por vezes supera a
ideia original); não tente copiar os sucessos, tente antes
evitar os fracassos; os empreendedores em série são o recurso
mais precioso (só um deles pode fazer uma grande diferença no
cenário local. 10 deles podem fazer grande diferença no cenário
nacional).
Pedro Murta, da Drive Capital, abordou a confusão existente
entre financiamento e investimento. "Investir não é financiar",
esclareceu. "Financiar é o que os bancos fazem". Sublinhou, no
entanto, como positiva, "a nova atitude das sociedades de
capital de risco", que no passado estavam ligadas a bancos e ao
Estado e que actuavam como as instituições financeiras. Em 2002,
com a alteração da legislação que regula a actividade das
sociedades de capital de risco, abriram-se portas a novos
operadores. "Hoje as sociedades de capital de risco estão mais
preparadas para assumir riscos, estão mais perto da empresa
participada e são muito mais rigorosas a analisar projectos".
pe
Filipe de Botton é o empreendedor do ano
Filipe de Botton foi considerado o empreendedor do ano de 2004
pela organização do VCIT – 5º Congresso Internacional de Capital
de Risco. O presidente da Logoplaste, que não pôde estar
presente na entrega de prémios que encerrou o encontro, no dia 4
de Maio, por razões de ordem pessoal, não foi, no entanto, o
único a ser distinguido pela Gesventure. Paulo Ramos, presidente
da comissão executiva da ParaRede, foi eleito o intrapreneur do
ano. "Não sei quais foram os critérios do júri. Espero que não
tenha sido pelo cansaço", afirmou, no seu discurso de
agradecimento, o gestor que, pela primeira vez em cinco anos de
VCIT, não fez parte da lista de oradores do evento.
António Quina, director de A Vida é Bela, uma empresa que
comercializa experiências, foi agraciado com o prémio de
inovação. "Dedico este prémio à minha equipa. Há três anos
estávamos todos desempregados. Portugal vive uma situação de
desemprego de luxo. Há muito bons profissionais e pessoas com
muitas qualificações que estão desempregadas", lamentou.
As críticas maiores viriam, contudo, a seguir, quando se referiu
às dificuldades que sentiu quando procurou financiamento para
arrancar com o projecto. "Fui corrido de todos os bancos com ar
de desprezo. Houve um que para me emprestar dinheiro com juros a
14 por cento me obrigou a comprar um faqueiro. Este é o capital
de risco que temos! Mas nós não precisamos de capital de risco.
Nem queremos capital de risco. Preferimos hipotecar a nossa
casa", afirmou.
A lista de vencedores da edição deste ano inclui ainda a
ChipIdea. À empresa liderada por Epifânio da Franca coube o
prémio que distingue o melhor processo de internacionalização.
"É no mundo que procuramos ser notados e, quando isso acontece
em Portugal, enchemo-nos de orgulho", referiu o mentor da
companhia, que já tem 90 clientes em 16 países e se prepara para
concluir "brevemente" uma operação de entrada de capital de
risco estrangeiro, com o objectivo reforçar a presença da
empresa no mercado internacional.
Em breve o PortalExecutivo apresentará um artigo sobre os temas
discutidos no segundo dia do 5º VCIT.
Fonte:
Portal Executivo
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